Espiritismo segundo o que eu acredito


Talvez poucos fora do meu circulo familiar saibam, mas sou uma pessoa religiosa. Nasci em uma família católica/evangélica. Durante bem uns 10, 15 anos fui coroinha. Já frequentei inclusive casa de umbanda e agora estou na minha fase espirita. 

Não vejo problema nessa infidelidade religiosa. Acredito que a busca pela fé é algo diário, e não um diploma para se colocar na parede. Mudo o que acredito quando algo deixa de fazer sentido para mim, quando para de me fazer tentar me tornar uma versão melhor de mim mesmo. Pois, no fim, acredito que a religião é irrelevante, o que é importante é o que ela faz em sua vida e o produto dela. Não importa se ela é a "verdadeira religião", se ela me torna alguém pior, intolerante e raivoso, é porque ela é uma religião ruim.

Hoje sou espirita. O espiritismo me trouxe respostas para perguntas que me afligiam. No fim, não importa se as respostas estão corretas. Se elas me dão um rumo e me garante que vale a pena ser uma pessoa boa, a conta dela está no azul.

Entretanto, embora eu possa acreditar até na Grande Abobora se isso me fizer uma pessoa melhor, repudio com todas as forças quando tentam me impor algo completamente falso e irracional. 

E porque eu falo isso? Domingo estava eu em um centro no qual eu frequento e fizeram uma palestra sobre Peixotinho, um médium de efeitos físicos conforme o Wikipédia define. E além de perturbado, saí de lá revoltado.

Primeiramente porque o espiritismo ensina que tudo é uma passagem e estamos sempre em evolução. E que a matéria não apenas é passageira, mas também um obstáculo para desapegarmos para valorizarmos o que realmente importa. Desta forma, é completamente irracional no meu ponto de vista um médium materializar um espirito.

Qual é o proposito dessas materializações? Apenas servirem de prova da existência do mundo espiritual? Faz sentido pregar que devemos nos educar para levar uma vida sem tanto apego com o material e para provar que isso é o correto, materializar quem já desencarnou? Partindo do principio que essas materializações são feitas de boa fé, me soa muito mais como uma apresentação de circo do que algo com um propósito verdadeiro.

Ainda assim, se fosse algo verdadeiro, eu simplesmente aceitaria como algo muito além da minha compreensão e deixaria para lá.

Mas claro que não é tão simples.

Durante a palestra, foram exibidas fotos das supostas materializações. A primeira, mais famosa, mostra o tal médium em uma pose de onde saiam faixas de pano branco que supostamente eram ectoplasma do corpo dele e formava uma pessoa coberta do mesmo pano com as mãos no ombro do médium, supostamente a alma materializada de uma pessoa desencarnada. Ao lado, sorrindo para a câmera, Chico Xavier.

Assisti muito Fool Us para aceitar a foto como verdadeira. Primeiro, duvido muito mesmo que, se tudo fosse real, o Chico Xavier daria as costas para um ser desencarnado que teoricamente precisa de orientação para posar para foto. Segundo, a alma é constituída de material digna da múmia do Chapolim. Soma-se a isso para o palco, com um pano preto ao fundo. Todo mágico amador sabe que fazer coisas aparecer e sumir depende muito do fundo.

Mas não para por aí. Veio uma sequencia de fotos, cada uma mais bizarra do que a outra. Em uma, o médium, deitado em uma cama com as faixas de ectoplasma saindo do corpo e se unindo a uma forma de... travesseiro! Beirava ao ridículo ver um travesseiro com fronha pomposa e com um rosto no meio. Se algum dia eu precisar me materializar, vou tentar me materializar em um formato que prove que isso não seja uma fralde. Talvez virei em forma de penico.

O problema é que eu não vejo motivo para um espirito desencarnado se materializar. Se já existe formas de se comunicar entre vivos e mortos (supostamente), para quê se materializar? Se eles não precisam se comunicar com seus entes queridos e sim, de algum tipo de tratamento, para quê se materializar se existem espíritos muito mais evoluídos que nós?

Não desejo querer mudar a forma de alguém acreditar em algo, pois eu acredito que fé é algo pessoal e não deve ser imposto por alguém. Mas sinceramente essa palestra ao invés de reforçar minha fé em algo, colocou dúvidas, não no trabalho do tal Peixotinho, que eu nem conhecia, mas no trabalho do Chico Xavier.

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